Sid Special Paint: da velocidade a arte em capacetes

Alan Mosca e o capacete de Ayrton Senna

Personalizar significa “atribuir aspecto, qualidade e característica de uma pessoa”. No mundo das competições, há quem vá além, colocando alma e espírito de corrida sob a pintura de um capacete. Nessa missão, não há ninguém melhor do que Alan Mosca e a Sid Special Paint. 

Nascido das pistas, o estúdio criado pelo lendário Sid Mosca segue como o mais influente quando o assunto é a personalização de capacetes. Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna e outras lendas do automobilismo tiveram seus cascos pintados no famoso ateliê paulistano.

Localizada na Avenida Washington Luís, em São Paulo, a Sid Special Paint é um oásis para os amantes de corridas e também carrega velocidade no sangue.

“Na década de 70, o meu pai participava de corridas [Divisão 3], como hobby. O carro dele era muito bonito, mas não andava tão bem”, explicou Alan Mosca.

A ascensão de Sid Mosca com Fittipaldi

Foi somente após abandonar as pistas como piloto que Sid Mosca começou a explorar a personalização no mundo das corridas. Com o automobilismo em processo de profissionalização no país, e com brasileiros nos holofotes do mundo, sentiu-se que era preciso fazer carros com pinturas esportivas.  

“Primeiro veio a Super Vee e a necessidade de deixar os carros mais bonitos. E foi aí que a gente entrou nesse negócio. Depois de um ou dois anos, eu já estava trabalhando com o meu pai”, completa. 

O que começou com carros evoluiu rapidamente para o que consagrou a família: a pintura de capacetes. O primeiro cliente foi o carioca Benjamin Rangel, da então Fórmula Super Vee.  

“Meu pai cobrou um valor, mas achou caro. Depois de uma semana, ele [Rangel] voltou com outro amigo e disse: ‘ele também quer pintar’. Mas o grande marco para a carreira do meu pai foi pintar para o Emerson, um ícone bicampeão mundial. Pintar para um cara desse é tudo. É a mesma coisa que pintar para o Hamilton ou Verstappen hoje. Foi uma ascensão meteórica”, complementa Alan. 

Em 1977, pouco mais de quatro anos após sua fundação, o ateliê já pintava os capacetes de Emerson, Ingo Hoffman e o carro da Copersucar. Até a pintura da Lotus para o GP do Brasil daquele ano foi refeita — em menos de 12 horas.  

“Foi o Emerson que batizou a nossa grife. ‘Coloca o nome de vocês aqui: Painted by Sid”, relembra Alan. “Meu pai dizia que a plaquinha ficava do lado esquerdo porque era mais perto do coração”.

A era Alan Mosca

Mesmo com fama internacional, já na década seguinte, a maior parte da demanda da Sid Special Paint era a pintura de carros, caminhões e outros veículos de frota. Os capacetes ainda não representavam parte significativa das receitas, mas, por conta do volume de pedidos, fazia-se necessário que alguém estivesse à frente desse departamento.  

Foi para atender essa necessidade que Alan Mosca assumiu o posto criativo e passou a ajudar pilotos a exprimirem sua personalidade.  

“Aqui sempre foi um ponto de início na carreira de vários pilotos. Eu conquistei várias amizades, como o André Ribeiro, Gil de Ferran. Eu tenho o orgulho de ter trabalhado para vários ícones do automobilismo”. 

Além dos nomes já citados, a lista de capacetes memoráveis pintados pela família Mosca é longa: Raul Boesel, Rubens Barrichello, Felipe Massa, Maurício Gugelmin, Christian Fittipaldi, Michael Schumacher, Mika Hakkinen, Eddie Cheever, Teo Fabi, Stefan Johansson. Até para o tecladista do The Cure, Roger O’Donnell, que é um entusiasta dos track days, o estúdio produziu capacetes. 

Alan aponta o capacete de Nelson Piquet, remetendo a uma bola de tênis, como a criação mais elaborada pelo estúdio: cores branca e vermelha e com detalhes da “costura da bola” em preto. O capacete traz ainda gotas que dão a sensação de movimento da bola. Nelson Piquet é um declarado fã de tênis.  

“Ficou uma pintura hiperlegal e se tornou marca da família toda”. 

“Foi uma realização, por toda pesquisa que eu tive. Quando eu vi aquele amarelo que eu desenvolvi a muito custo em primeiro lugar… nossa, aquilo foi demais pra mim. Eu assisti toda a corrida em pé”. 

Alan conheceu o tricampeão ainda como piloto de kart, mas já alertava seu pai que via no jovem kartista um talento extraordinário. Em recente entrevista, ele comentou que a primeira pintura desenvolvida para Senna foi de um capacete branco com faixas laterais em azul. O verde e amarelo, inicialmente, era uma criação para a delegação brasileira de kart disputar o mundial. Quando voltou da disputa, Ayrton pediu a Sid Mosca a exclusividade do design

Atualmente, a Sid Special Paint é o único ateliê que fabrica as réplicas oficiais dos capacetes de Ayrton Senna. Um dos modelos originais do tricampeão está com Alan Mosca, após um acordo com o próprio Senna para ceder o capacete de sua primeira vitória ao seu acervo. “É claro que eu não ia negar a ele [risos]. A gente devolveu e ele me mandou um muito lindo da Camel [ex-patrocinadora da equipe Lotus]”.

O estilo do ateliê

Assim como Senna, o estúdio tem obstinação em se diferenciar e entregar um produto que remeta aos sentimentos de um piloto. No começo, era a veia artística de Sid Mosca que ditava as criações, mas o ateliê acompanhou a evolução tanto dos materiais quanto das referências que jovens pilotos trazem.

“Meu pai era muito artista. Ele olhava pra você e dizia: ‘você vai usar um capacete vermelho, branco e azul’. Então nem tinha como contestar. Hoje em dia, um menino de 8 a 10 anos chega com um celular e tem mil ideias de capacete… então, você tem que fazer uma triagem com ele a partir de um questionário”. 

É a partir dessa entrevista com os pilotos que o estúdio começa o processo de criação. Eles precisam entender a mensagem e o estilo do atleta para o time começar a ter ideias que conectem com a personalidade de quem estará sob a viseira. Segundo Alan, a preferência é que o piloto participe do processo de desenvolvimento, mas ainda há muitos pilotos que chegam e dizem: “a criação é toda por conta de vocês”. 

Os capacetes passaram por evoluções técnicas. Ficaram mais robustos, estruturados e tecnológicos. Tudo em prol da segurança dos pilotos. E o processo de pintura também acompanhou esse movimento, tornando a personalização um processo ainda mais detalhista.

“Os capacetes evoluíram. Viseira, peso… as tintas. Quando começamos, o material não era tão bom quanto hoje, principalmente os vernizes”, explicou Mosca. “Era uma luta pra fazer as cores. O amarelo fluorescente tinha só em material serigráfico… é o do capacete do Ayrton, que ele venceu no Estoril em 1985. Eu levei quatro ou cinco anos para conseguir chegar naquele resultado, por conta da pesquisa, teste, desenvolvimento e contato com as fábricas. Eu também fiquei anos desenvolvendo essa cor no capacete do Christian Fittipaldi”, complementou. 

Atualmente, como relata Alan Mosca, há vernizes que secam em menos de três horas, agilizando todo o processo de desenvolvimento de um capacete.

“Usamos um material muito leve hoje, como o poliéster, que é muito bom. Antigamente, era Duco, de madeira, algodão… nitrocelulose. Não era favorável [risos]”. 

O futuro da Sid Special Paint  

Além do comando de Alan e colaboradores que estão há 40 anos com a família, o ateliê conta com sua filha, Stela Mosca, na administração e operação do local. Esse conjunto traz segurança pra Alan seguir fazendo o que mais ama: criar

“Eu tô bem livre pra fazer o que eu gosto, atender as pessoas e pintar alguns capacetes… Tenho certeza de que meu pai estaria muito orgulhoso. Onde ele estiver, deve estar muito feliz. Chegamos a um nível de excelência muito alto, conseguindo produzir e dar lucro pra empresa”. 

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