Pedro Santana: o homem por trás do Martelinho de Ouro

Pedro Santana em sua oficina em São Bernardo do Campo.
Tempo de Leitura: 5 minutos

Pedro Santana é considerado o precursor de uma das técnicas mais famosas de reparo automotivo no Brasil: o Martelinho de Ouro. Popularizada nos anos 90, a técnica caiu no gosto dos brasileiros por ser prática, acessível e, principalmente, por evitar a substituição de peças inteiras por conta de pequenos amassados.

Aos 75 anos, Pedro relembra sua trajetória em entrevista ao blog da PneuStore. Ele fala sobre o início como funileiro na Volkswagen, o acidente que reduziu a mobilidade do braço e a luta para manter o nome “Martelinho de Ouro”, usado por oficinas em todo o país sem sua autorização.

O começo na Volkswagen

“Entrei na Volkswagen em 1968, com 20 anos, para trabalhar na linha de produção. Era puxado demais, quase não dava tempo nem de ir ao banheiro”, conta Pedro, lembrando dos primeiros anos em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.


Depois de pensar em desistir, ele foi chamado para atuar na área de funilaria, onde fazia reparos na lataria dos veículos. Armado apenas com um martelo, uma espátula, uma alavanca e um taquinho de madeira, começou a desenvolver habilidade e agilidade que chamavam atenção.

Pedro exibe martelo de ouro que ganhou de cliente. Foto: Italo Campos/ Blog PneuStore.


A ascensão e a primeira reportagem

Após sair da Volkswagen, Pedro passou por diversas oficinas até conseguir abrir a sua própria. No início, atendia apenas revendedores e concessionárias de carros, mas logo a fama se espalhou pelo boca a boca.

“Eles ficavam curiosos em ver como eu ia desamassar os carros. Primeiro eram dois clientes, depois dez, e eu fiquei atolado de serviço. Antigamente, o funileiro era uma profissão de primeira linha, como um médico renomado”, lembra.

O reconhecimento maior veio em 1990, quando foi tema de uma reportagem do jornal Diário do Grande ABC. O motivo? Pedro havia desamassado uma máquina importada de grande porte que havia sofrido danos no transporte, algo que parecia impossível na época.

Recorte de reportagens sobre Pedro Santana. Foto: Arquivo pessoal.


O acidente e a criação da marca

Um ano depois, Pedro sofreu um acidente ao cair de um telhado, fraturando o braço e a bacia. Perdeu cerca de 40% da mobilidade, mas não abandonou a profissão.

Em 1993, abriu a oficina com o nome que se tornaria famoso: Martelinho de Ouro. O apelido nasceu dos próprios clientes, que diziam que Pedro tinha “mãos de ouro” e, como usava sempre o martelo, o nome pegou de vez.

Antes e depois do martelinho de ouro. Foto: Arquivo pessoal.

O uso do nome Martelinho de Ouro

Hoje, é comum ver oficinas em todo o Brasil utilizando o nome Martelinho de Ouro para oferecer serviços de reparo. Para Edivaldo Santana, filho de Pedro e responsável pela parte administrativa da oficina em São Bernardo do Campo, isso acontece porque a técnica ficou conhecida nacionalmente e o nome transmite credibilidade.

“A gente registrou a marca para qualificar o trabalho. Tem muita gente ruim que usa o nome e acaba prejudicando a reputação. A marca é uma referência no mercado. Já recebemos reclamações de clientes que foram a oficinas chamadas de Martelinho de Ouro achando que eram franquias nossas, mas não eram”, explica Edivaldo.

Segundo ele, a família luta na Justiça para proteger o direito de uso exclusivo do nome:

“Não estamos proibindo ninguém de trabalhar, apenas queremos impedir o uso indevido do nome. Registramos a marca no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e entramos com ações para que não usem o nome Martelinho de Ouro. O problema é que o processo é burocrático. Muitas vezes ganhamos a causa, o estabelecimento tira o nome e, três meses depois, volta a usar. No Brasil, infelizmente, não há tanto respeito por marcas e patentes.”

Pedro reforça a fala do filho:

“Não quero impedir ninguém de trabalhar como funileiro. Todo mundo pode ser ‘martelinho de ouro’. O que não pode é usar o nome registrado como se fosse nosso. Aqui perto mesmo tem uma oficina que colocou o nome, mas não tem nada a ver com a gente.”

Conjunto de ferramentas utilizadas ainda hoje para desamassar veículos. Foto: Italo Campos/ Blog PneuStore.


O caso de reparo mais marcante

Entre tantas histórias, uma em especial marcou a trajetória de Pedro Santana. Nos anos 90, um médico de Curitiba viajou até São Bernardo do Campo para procurar sua oficina. O motivo era simples: seu Escort GL havia sofrido uma batida, e na concessionária recomendaram a troca completa da porta, algo que ele não aceitava, já que a pintura não ficaria uniforme.

O médico havia lido uma reportagem sobre Pedro na revista Quatro Rodas e decidiu arriscar a viagem com a esposa e o bebê. Ao chegar, no entanto, encontrou o funileiro ainda em recuperação da queda do telhado, com o braço engessado. Pedro explicou que não poderia realizar o reparo de imediato e sugeriu que o cliente esperasse cerca de um ano, até sua recuperação.

Sem desistir, o médico pediu indicação de outro profissional. Pedro lembrou de um antigo colega de fábrica, apelidado de “Uri Geller” pela habilidade em desamassar latarias. Porém, o colega recusou o serviço, alegando que a porta não tinha conserto. Diante disso, o médico retornou à oficina de Pedro e disse que preferia esperar por ele.

Comovido, Pedro resolveu tentar, mesmo com as limitações. “Eu não sou canhoto, mas vou começar a ser agora”, brincou ao pegar as ferramentas. Com a ajuda de colegas de oficina, passou horas trabalhando até devolver a porta ao estado original.

Antes e depois do reparo no Escort GL. Foto: Arquivo pessoal.


O reparo atualmente e o legado da técnica

Segundo Edivaldo, o trabalho de martelinho de ouro ficou mais desafiador com o passar dos anos. As carrocerias modernas são mais fechadas e dificultam o acesso à lataria por dentro.

“Os carros novos são muito blindados por dentro, o que complica o serviço. Já os modelos antigos tinham uma estrutura diferente, com mais espaço para trabalhar. Mesmo assim, os clientes ainda procuram evitar a repintura, porque ela nunca fica exatamente igual à original. A tonalidade é outro desafio: dificilmente conseguimos chegar a 100% da cor de fábrica”, explica.

Apesar de conviver com a técnica desde cedo, Edivaldo admite que nunca a aprendeu de fato. Ele credita isso à falta de paciência do pai para ensinar: “Me arrependo de não ter aprendido. Meu pai sempre foi muito calmo para executar o serviço, mas não tinha a mesma calma para ensinar”, brinca.

Ainda hoje, os reparos mais comuns são em capô, portas e teto. E mesmo com todas as mudanças na indústria automotiva, Pedro mantém o mesmo entusiasmo de quando começou: “Se precisar, estou pronto para o trabalho”.

Pedro Santana aponta reparo feito recentemente. Foto: Italo Campos/ Blog PneuStore.

Populares

Dicas,Pneus

Melhores pneus para economia de combustível

Uma coisa que muita gente pergunta é: quais são os...

Dicas

Quais são os carros que mais poupam combustível no Brasil?

Eficiência é uma tendência, ainda mais quando falamos de combustível....

Dicas

Mas afinal: como saber se o pneu está careca?

Pneu careca é perigoso. O pneu é o único ponto...

Boletim Informativo

Receba nossas últimas notícias

Oferta Especial

Pneus Michelin com até 40% OFF

Compartilhe este artigo:

Facebook
X
LinkedIn

Posts Relacionados

Novidades, Pneus

Continental lança nova linha de pneus VanContact Ultra para vans e utilitários

A Continental, marca alemã do setor automotivo, apresentou ao mercado o VanContact Ultra, pneu desenvolvido especialmente para vans e veículos de carga. Na PneuStore, você já encontra essa novidade com

Motorsport

European Le Mans Series: Pietro e Enzo Fittipaldi miram pódio na Bélgica

O European Le Mans Series (ELMS) abre neste final de semana a segunda metade da temporada com a disputa das 4 Horas de Spa-Francorchamps, na Bélgica, quarta etapa do campeonato

Novidades

BYD tem o carro elétrico mais veloz do mundo

Nascido para as pistas, o BYD Yangwang U9 Track Edition bateu o recorde de carro elétrico mais veloz do mundo. O bólido da divisão premium da montadora chinesa atingiu 472,41